quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Vídeo da Inserção do Projecto Brh+

Nesta mensagem publico o vídeo relativo à inserção do produto final do Projecto Brh+ no Museu de Zoologia no Edifício da Reitoria da U. Porto.

A colocação não se deu exactamente no interior do museu, mas sim à porta deste.
O museu encontra-se encerrado até Março (se não estou em erro) por motivos de restauração das instalações. O incêndio que se deu no edifício há poucos meses danificou algumas peças e um grande sector do departamento de Zoologia.




quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Inserção do Projecto Brh+ no Museu de Zoologia da Reitoria da U. Porto

Após uma longa pausa, o Projecto Brh+ está de volta, desta vez inserido na disciplina de Ilustração no curso de Mestrado em Design Gráfico e Projectos Editoriais da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Como o Projecto ficou estagnado na questão da inserção no seu habitat, que iria ser feito em Verdelhos, decidi aproveitar a proposta de Ilustração (realização de um documentário ficcionado) para alterar a sua aplicação e terminar, dessa forma, o Projecto Brh+.
Após alguma reflexão decidi não colocar a criatura em Verdelhos, mas sim no Museu de História Natural no Edifício da Reitoria da Universidade do Porto. O Museu está repleto de animais embalsamados, onde todas as espécies são preservadas da forma mais fidedigna possível, creio que faz sentido ficcionar aquela documentação existente no museu, colocando no seu acervo um elemento ficcionado ou imaginário, mesmo que constituído por partes reais. A documentação ou registo que farei funcionará como um abrir de apetite para que se visite a criatura no seu novo ambiente. O documentário ficcionado estará patente, então, nos seguintes aspectos:

- este capítulo irá fugir do planeamento previsto para a criatura, ficcionando dessa forma os conteúdos e previsões reais do que foi documentado até agora.
- a inserção da criatura no Museu funcionará como um elemento de ficção nos objectivos reais em que o edifício se sustenta - apresentação de espécies animais.
- a informação de que o animal vai ser libertado em Verdelhos permanecerá inalterada como forma de documentação do processo de trabalho e do historial do projecto, no entanto, a sua aplicação nunca irá acontecer.
- ao colocar a criatura no Museu estou a criar a possibilidade do observador associar realidade com algo que é fruto do imaginário ficcionado, mesmo que sendo constituído por partes reais ou naturais.

Este projecto nasceu como uma forma de manifestação artística e assim irá "viver", sob a forma de exposição. O objectivo primordial do projecto é incentivar a discussão, reflexão, compreensão sobre o tópico da intimidade, morte e infinitude. Se a criatura não for observada, sofrerá de um esquecimento prematuro e todo o conhecimento que poderia advir da experiência visual ficaria perdido. A criatura terá então um carácter social, de aproximação das pessoas à temática da morte, infinitude. A documentação ficcionada será alimentada e partilhada por um conjunto de entidades e situações, que o reprovam ou aceitam.

Como será implementado?

Construí uma base, feita em madeira pintada de preto, com um tronco em arco (preso por um prego). Esta base funciona como um elemento que se mistura com o que existe no museu. Tentei criar alguma pessoalidade, mas , ao mesmo tempo, manter uma linha de semelhança relativamente ao que já existe no Museu.



A criatura ficará pousada sobre a base negra. O tronco funcionará como um elemento natural, para o enquadrar com o Museu.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Apresentação do Projecto

O Projecto Brh+ já foi apresentado aos meus colegas de curso e ao corpo docente directamente relacionado com a disciplina em que está inserido.

A meu ver a apresentação correu muito bem, apesar das poucas horas de sono (ou nenhumas) que antecederam a mesma.

Aqui deixo algumas fotografias dos fortes laços criados entre a criatura e os presentes na apresentação.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Vídeos disponíveis no blogue

Os vídeos relativos ao processo de trabalho deste projecto estão finalmente disponíveis neste blogue. Podem vê-los divididos por capítulos nas mensagens correspondentes. Espero que gostem.

Nesta mensagem deixo ainda um vídeo extra.
Uma colectânea dos melhores momentos de todos os capítulos do processo de trabalho.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ponto de Situação #8 - Taxidermia Final

A criatura está oficialmente concluída (tirando alguns detalhes que possam vir a surgir, eventualmente). Aquilo por que tanto tenho trabalhado finalmente assumiu uma forma. Um tanto monstruosa, é verdade, mas bonita. O filho é sempre bonito aos olhos do pai. É verdade, sinto-me um jovem pai que não consegue conter o entusiasmo. Não posso dizer que tem "os olhos do papá" dado que ainda não tem olhos, mas vou tentar encontrar uns à medida. Não com a minha carga genética, pois essa já carrega dentro dela (sangue), mas com a carga emocional.

Esta segunda fase de taxidermia correu bastante bem. Tratou-se da costura. Em nada foi repugnante, ao contrário da primeira etapa da taxidermia final (corte e extracção do interior). As peles já não tem um cheiro tão intenso e já não foi necessário lidar com os órgãos internos (que por falar nisso ainda estão na "Arca de Noé" ... ups!).
Comecei por limpar as manchas na pele dos animais, com o auxílio de uma escova dos dentes velha e gasta. As escamas da truta tinham de saltar fora pois apodrecem muito facilmente, o que é de evitar. Seguidamente, uni a parte dianteira da iguana com a parte traseira da truta. Enchi o interior com desperdício de tecido, o tubo com o meu sangue e um pouco de anti-traça (mecanismo de defesa). Suturei o conjunto e Voilá! O resultado foi este. Espero que gostem.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Ponto de Situação #7 - Recolha de Sangue

A recolha de sangue finalmente está concluída. Após uma tentativa fracassada de extrair sangue do meu corpo através de um corte de bisturi no braço (o que não foi muito inteligente, diga-se desde já!), consegui agora, com o auxílio da minha mãe e dos seus conhecimentos médicos, extrair sangue pelo método tradicional. Seringa e agulha.
Não sei como descrever a minha experiência de recolha de sangue, dado que não foi um caso único. Não foi a primeira vez que recolhi sangue e acabou por ser igual a todas as outras vezes.


fotograma: Henrique Serro

Só mudou a enfermeira (por uma médica que curiosamente era a minha mãe) e o cenário (que curiosamente era a cave lá de casa). Fora isso foi completamente normal. O garrote no braço. Uma pontada de dor mínima. O sangue a entrar na seringa. O algodão a estancar o orifício. Tudo normal.
Um pormenor positivo da recolha de sangue no local onde foi feito é o facto de não cheirar constantemente a éter como acontece em todos os Hospitais. Fico sonolento com o cheiro a éter e isso deixa-me desconfortável.


fotograma: Henrique Serro

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Ponto de Situação #6 - Recolha de Sangue

Nesta mensagem irei descrever a tentativa de recolha de sangue.
Para começar, antes de qualquer outro assunto, era inteligente da minha parte admitir que fui um tanto estúpido por ter tentado retirar sangue de uma veia, no braço, com o auxílio do bisturi. Isto Porquê? É simples.
Quando se corta uma veia, não se tira sangue, ele simplesmente jorra. São conceitos distintos o de "retirar" e "deixar escorrer".
Tal não aconteceu graças à pancada de sobriedade que levei. De que proveniência? Não sei.
Ao cortar a veia do braço fui impelido a parar pelo desastre iminente. Senti, não pela dor mas por uma voz interior, que se o corte fosse um pouco mais fundo, poderia ter extrema dificuldade em estancar a ferida. Como tal decidi parar e pedir aos meus pais (que são médicos) que me retirem o pouco sangue que preciso. Eles acederam. Em sorteio ficou decidido que vai ser a minha mãe a fazê-lo.


foto: Francisco Lobo
Voltando um pouco atrás vou aqui tentar "justificar" as minhas motivações para recolher o sangue deste modo.
foto: Francisco Lobo
A primeira motivação foi o comodismo. Era interessante ir ao Hospital, por este reunir todas as condições para a recolha de sangue, mas é muito longe de casa.
A segunda motivação foi, caso corresse mal, a minha mãe não me negaria retirar sangue, para evitar que cortasse o braço novamente.
Por fim, não menos importante, esta acção ajudou o Francisco (colega de turma) no projecto dele.

foto: Henrique Serro

terça-feira, 29 de abril de 2008

Verdelhos - 25 a 27 de Abril

Não há palavras para descrever o fim-de-semana passado em Verdelhos. Qualquer adjectivo pré-existente usado para qualificar esta aldeia seria demasiado redutor. Como tal nem sequer vou tentar exprimir aquilo que senti quando lá estive.
Posso simplesmente relatar os factos. Tive numa casa de xisto, no meio do nada. Sem electricidade ou luz artificial, sem estrada de acesso (tem um caminho de cabras). Mais recôndito e natural não pode haver. Simplesmente ... inclassificável.
Inicialmente, mesmo antes de ir passar lá o fim-de-semana, já estava a pensar escrever a experiência neste blogue, dado que este fim-de-semana foi a razão pela qual deixei o trabalho adiantado e porque a minha necessidade de relacionamento social e de tranquilidade acaba por condicionar o projecto. Foi essencial e correu muito bem.
Agora, esta necessidade de escrever neste blogue acaba por se tornar uma "obrigação" porque decidi, enquanto estive lá, que vou colocar o animal naquele meio. Naquela Natureza. O local onde estive parece reunir todas as condições para "libertar" a minha criatura.
Não digo mais nada, deixo a imagem falar por ela mesma.

foto: Susana Serro

Ponto de Situação #5 - Taxidermia Final

Chegou a hora da Taxidermia Final, 22h, quinta-feira, 24 de Abril de 2008. Mais uma vez, à imagem do que fiz na mensagem anterior "Ponto de Situação #4 - Experiência Taxidermia", irei escrever e descrever a minha experiência relativamente ao processo de Taxidermia Final. O que é que isto significa? Significa que já retirei o interior dos animais, ficando só com a pele, daquilo que será o produto final do meu projecto. Uma das últimas etapas.
Esta prática de taxidermia foi bastante mais complicada do que a experiência. Levou cerca de 6 horas de trabalho contínuo, sem pausas. Não, minto. Teve uma pausa para cumprir uma necessidade fisionómica básica, a das curtas. Nada mais que isso.
Se considerarmos pausas, o levantar-me da cadeira e mudar a câmara de posição, então fiz mais umas 8/10 pausas. Não sei bem ao certo. Mas enfim. Trabalho duro, desgastante, física e psicologicamente.
Face às 2h/3h que demorou a Experiência de Taxidermia. Há que ver pelo lado positivo. Pode ter sido extremamente cansativo mas até foi rápido.
Porque é que fiz a Taxidermia Final a todas os animais simultaneamente?
Primeiro, era a única maneira de garantir que todas as partes encaixam. Não queria correr o risco de cortar as partes desproporcionalmente umas em relação às outras. Outra razão que me levou a fazê-lo deste modo foi o facto de não querer perder a coragem com que estava. Se parasse naquele momento não sabia quando iria continuar. Por fim, estava a pensar passar o fim de semana fora com a minha irmã e amigos. Queria ir com eles a Verdelhos, fugir um pouco da agitação, respirar ar puro. Para o fazer tinha de recolher as peles para aproveitar o tempo que ia estar fora e deixá-las de molho no líquido de preparação (água, sal e alúmen). E assim aconteceu.
Vou-me deixar de rodeios e começar a falar da taxidermia em específico.
Fui buscar os animais "lá atrás" à "Arca de Noé" e deixei-os a descongelar "lá em baixo", ao lado da porta da cave que dá para o quintal.




foto: Henrique Serro

Fui tomar café, mentalizar-me, relaxar. Cumprir o ritual de preparação psíquica para me lançar na taxidermia. Após a preparação estar completa, vesti-me a rigor para a ocasião, meti os phones nas orelhas e lancei-me na taxidermia. A razão pela qual usei phones é simples. Precisava de ouvir música alto o suficiente para me concentrar nessa mesma música e baixo o suficiente para captar com a câmara o som da taxidermia e todos os sons ambientes. Coisa que não foi possível na taxidermia experimental. Comecei pelo morcego. O caso mais simples, mais delicado e mais descongelado. foi realmente muito simples, curioso e uma experiência de exploração. O nojo que provoca ao olhar e ao tacto (pela viscosidade que é realmente acentuada) nada combina com o cheiro.

Não cheira tão mal quanto se imagina. Face à iguana e à truta arrisco-me a dizer que cheira a rosas. Talvez esteja a exagerar vá. Não custou muito, talvez por estar à espera de um cheiro horrendo.
Um episódio engraçado e diferente a anotar neste caso foi ter encontrado uma pedra de urina congelada, do tamanho de um berlinde, na bexiga do animal. Pedra essa que se desfez quase instantaneamente quando a tirei do seu interior.
Retiradas as asas, já tinha um dos elementos da minha composição.
Prossegui para a iguana adulta. Esta foi a mais trabalhosa, sem dúvida alguma. No entanto, não foi a que custou mais a tratar.
Comecei como de costume por fazer uma incisão na zona abdominal do animal, desde o pescoço quase até ao ânus. De seguida cortei os membros traseiros e a cauda com o serrote. Era realmente complicado cortá-la com o bisturi, por isso o serrote acabou por se revelar a solução mais prática. O cheiro da iguana era já um pouco mais desagradável. No entanto, curiosamente, o da iguana mais pequena era bastante pior.
Fui retirando a pele, a pouco e pouco, neste caso não foi necessária tanta delicadeza devido à resistência da pele. Aliás, era necessário muita força. Tanta que ao acabar de soltar os músculos da iguana do corpo, patas e crânio, já estava completamente derrotado. O enjoo derivado ao cansaço, mudança constante de odores, temperaturas, experiências tácteis e visuais insurgia cada vez mais com mais rigor. Ao acabar o assunto com a iguana estava perto de ficar por ali e continuar noutro dia. Só a imagem de tranquilidade de Verdelhos que me surgia esporadicamente na mente me conseguiu evitar a desistência antecipada.
Eram agora 3:20h da manhã do Dia da Revolução (25 de Abril) quando comecei com o último animal. Nunca neste dia me senti tão revoltado. Estava a viver o 25 de Abril que nunca vivi. A minha revolução em todos os sentidos e a revolução das coisas à minha volta naquela cave fazia-se notar a qualquer um que por lá decidisse aparecer. Felizmente que ninguém o fez.

O peixe (truta) foi, sem dúvida alguma, o mais difícil e nojento (era, não consigo escondê-lo). A frescura e viscosidade atravessava as grossas luvas azuis de borracha. Parecia que estava a mexer no animal de mãos nuas.

O cheiro era brutalmente venenoso. Já não sentia cheiro a peixe. Era tudo uma mistura do pior cheiro que se pode imaginar. Coisa que não é possível fazer. Confesso que tive vontade de vomitar, o que é um ponto para os animais. Eu muitíssimo raramente vomito e aquela experiência sensorial toda junta estava a conseguir ganhar pontos sobre mim.
Mas não me podia deixar vencer. "O fim de semana que me espera vai ser tão bom" - Pensava eu. "Paz. Tranquilidade" ... insistia para não desistir. O esforço físico começava a ser insuportável até que o psicológico foi atacado pelo esgotar da bateria do iPod. Acabou a música.
Já em desespero acabou a taxidermia também.
São 4h da manhã. Junto a pele do peixe às outras peles, dentro da bacia, com o líquido de preparação.
O cheiro persegue-me até à cozinha. Como pão para tentar encher o estômago. Tentar enganá-lo com alguma coisa insípida, sem um sabor muito forte. Não fosse correr o risco de vomitar. As dores de cabeça manifestavam-se a esta altura com uma intensidade indescritível. "O cheiro continua" - quanto mais pensava no cheiro mais intensamente cheirava e mais dores de cabeça tinha. Fui lá fora fumar um cigarro. Mal dou a primeira passa tudo muda. O fumo invadiu o espaço do cheiro que os animais me deixaram. Tomou posse e tornou-se ele próprio, sensivelmente a meio do cigarro, o elemento evasivo. A última passa que dei naquele último cigarro do maço deixou-me a muito pouco de vomitar. Ficou-se pela produção abundante de saliva. Fui para a cama (4:30h) a sentir que dei um pouco da minha vida. Morto de cansaço.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Ponto de Situação #4 - Experiência Taxidermia

A minha primeira Experiência de Taxidermia finalmente foi levada a cabo. Nos últimos dias andei a colectar pacotes de coragem para me atirar de cabeça na prática efectiva de embalsamamento animal.
O texto publicado nesta mensagem servirá então para documentar aquilo que, o vídeo e as fotografias por si só, não possuem a capacidade de transmitir. Irei escrever sobre as sensações, os odores, os pensamentos e toda a envolvente.
Iniciei este capítulo do Projecto, indo à Arca Congeladora (aquilo a que mais recentemente chamo de "Arca de Noé") recolher uma das iguanas mais pequenas que tinha lá dentro (gentilmente cedida pelo Sr. Arlindo, alguém que escrevo muito neste blogue). Dirigi-me com ela para o meu local de trabalho (a cave de minha casa) e coloquei-a em cima da mesa para descongelar. Até aquele momento, não senti odores muitos intensos. Tal condição mudou após ter esperado que a iguana descongelasse e incidisse o primeiro corte na zona abdominal. O cheiro concentrado no interior da dura pele do pequeno réptil aflorou, evasivamente, à superfície, contagiando toda a cave e as escadas interiores de acesso ao rés-do-chão. Entranhou-se na camisola, na t-shirt, nas calças, nas sapatilhas, nas luvas, nas meias. Lembro-me de me questionar no pensamento "como é que um animal tão pequeno pode cheirar tão horrivelmente". É o primeiro factor que evidencía a distinção entre a vida e a morte. O cheiro que senti é tão facilmente traduzível por palavras, como incomparável com qualquer outra coisa. Cheira a iguana morta(ponto)


Enfim ... contagiado o espaço, só me resta prosseguir. A música foi a minha principal força. Nem sei ao certo o que estava a ouvir. Algumas músicas electro que o meu irmão me tinha acabado de passar para o computador estavam "aos berros" a ser reproduzidas ao longo da sala. O único papel da música naquele momento era o de substituir a atenção do olfacto pela audição. Ao manter a concentração focada na música abstraía-me do cheiro. Era facto e por mim tudo bem.
À medida que continuava a libertar a pele do resto do corpo, delicadamente, com o auxílio do bisturi, imagens do livro técnico de Taxidermia que vou revendo (Taxidermia - Embalsamamento de Pássaros e Mamíferos da autoria de Harry Hortjaa) surgem-me sob a forma de sinapses electricamente estimuladas. Nunca tinha lido como embalsamar um réptil, mas deduzi e bem (acho eu) que não haveria de estar muito longe da prática de taxidermia em mamíferos que tinha lido, re-lido e enjoado de ver imagens e videos.
"Corta aqui e ali, agora dá a volta, solta, cuidado com as patas, isso, muito bem, ups ... não interessa, para a próxima já não me engano. Continuando". Pensava eu. Fiz um conjunto de asneiras. Saudáveis. Nada de grave. Afinal de contas esta experiência serviu para isso mesmo. "Quanto mais asneiras fizer, mais asneiras me vou lembrar que fiz na Taxidermia Final".
Acabei esta minha experiência com um ... "Isto nem é assim tão difícil, embora já não sinta o meu próprio cheiro" ...

terça-feira, 15 de abril de 2008

Ponto de Situação #3 - Recolha dos animais

Queria, nesta mensagem, antes de qualquer outro assunto, agradecer ao Sr. Arlindo Araújo da empresa "O Pantanal" e ao Dr. Nuno Alvúra do Zoo da Maia, pela disponibilidade e por me terem facultado os animais mortos que preciso para avançar com o meu projecto. É graças a eles que posso dizer: "A recolha dos animais está finalizada" (ou quase). Para já tenho em minha posse três iguanas (uma adulta e duas jovens), um pássaro e um morcego. Podem ser vistos documentados nas filmagens, no capítulo "Recolha de animais" que em breve estará disponível. Estou a ponderar montar o meu híbrido com uma espécie piscícola, que ainda tenho de comprar num qualquer mercado.
Os outros animais estão prontos e aguardam, congelados na arca frigorífica, pela minha intervenção. Agora deparo-me com a necessidade para outro tipo de preparação, a minha. Poderia já ter começado a experimentar a prática de taxidermia numa das iguanas mais jovens que recolhi, mas ainda não tive o sangue frio para tal. É uma vantagem que ela leva sobre mim.
Vou "perder" agora mais dois/três dias, no máximo, para refazer estruturalmente aquilo que vai ser a minha criatura híbrida. Nesse período de dois/três dias é possível que vá ao hospital (em principio de Famalicão) recolher um pouco do meu sangue para colocar dentro do animal, numa das últimas etapas da taxidermia.
Por enquanto deixo aqui uma montagem daquilo que há alguns quatro meses atrás imaginava que iria ser a minha criatura híbrida.

A minha criatura foi inicialmente pensada com este aspecto, pela facilidade que representa encontrar cada um destes quatro animais mortos. Nunca imaginei, quando pus na cabeça fazer este projecto, que seria mais fácil encontrar animais exóticos mortos do que aqueles que vemos no quotidiano como um rato ou um esquilo. A realidade é que, pensando bem, até faz sentido, pelo menos na cabeça de quem tem por hábito guardar animais mortos no congelador do Combinado como é o caso do Sr. Arlindo.
Por que raio havia o Sr. Arlindo de guardar um rato ou um esquilo no congelador, quando pode lá enfiar iguanas, cobras, lagartos, doninhas ou pássaros exóticos. Já que é para meter animais no congelador, ao menos que sejam exóticos. "Pode ser que apareçam aí uns estudantes lá das Artes malucas à procura de animais mortos e ainda faço algum dinheiro com isso". Pensou ele. O Sr. Arlindo é um homem de negócios. Que posso eu fazer. Apenas posso lamuriar os 40€ que a iguana adulta morta me custou e agradecer pelas outras duas e pelo pássaro de "oferta".
Mas enfim ... foi uma boa lição. Tudo na vida custa dinheiro ... tanto como na morte.
Mas ... não lamento ter gasto esse dinheiro nos animais mortos. São só desabafos.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Como será a aplicação prática do projecto Brh+ ?

Esta é uma questão que me tem vindo a atormentar desde que decidi investir a minha dedicação neste projecto de taxidermia.

Como será aplicado? Como revelarei toda a documentação processual do trabalho e o produto final simultaneamente? Será isso estritamente necessário?

Inicialmente, imaginei a exposição do meu trabalho do seguinte modo:

.o produto final ou criatura embalsamada em cima de uma caixa ou de um plinto branco como local de destaque (à semelhança das esculturas), acompanhado da ficha técnica (com inclusão de uma sinopse e o endereço do blogue) e acompanhado ainda de um pequeno leitor de DVD portátil, onde passaria em loop todo o processo de trabalho documentado.

Esta pareceu-me a melhor solução para expor o meu projecto, dada a importância dos vários elementos que o compõem (conceito, processo e produto).

Agora que fui alertado para esta questão pelo orientador do projecto apercebi-me que nem sempre o modo mais típico de exposição de um trabalho artístico é o melhor ou ideal. Na realidade, mesmo para o conceito deste projecto não tem muita lógica expor a criatura como um troféu ou como objecto artístico. A verdade é que tenho vindo a pensar bastante sobre a sua aplicação prática mas nunca achei necessário, até agora, tê-la já determinada.

Agora apercebo-me da importância da sua aplicação e decidi fazer algo que me ocorreu mas me custou determinar como algo que irei efectivamente fazer.

Depois de concluída e documentada a criação da nova criatura irei libertá-la na natureza, num local ermo, longe dos perigos que os Homens representam e perto dos perigos dos seus predadores naturais, bactérias e seres de decomposição orgânica. Creio que só assim tem lógica a exposição desta criatura, não sendo vista como obra de arte, mas sim como um ser. A aproximação da criatura com a natureza dá-lhe os elementos necessários para viver. Um ser condicionalmente morto que vive. Como todos nós, mas sem a sua condicionante. Enfim ... Pormenores.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Ponto de Situação #2

Neste “Ponto de Situação #2”, felizmente, posso relatar grandes avanços no meu projecto.
Tenho vindo nos últimos dias a contactar todas as entidades que recolhi contactos, que achei, por qualquer razão, que me pudessem ajudar.

Sábado, 22 de Março de 2008

Fui ao Zoo da Maia para tentar adquirir animais mortos, mas tive pouca sorte. O Veterinário e responsável pelos animais do Zoo não estava. Só segunda-feira poderia contactar com ele no Zoo. Visto que neste último fim-de-semana foi Páscoa, não havia muito que pudesse fazer.

Segunda-Feira, 24 de Março de 2008

Em vez de ir ao Zoo, liguei para lá e deram-me o contacto do Veterinário, Dr. Nuno Alvura. Liguei-lhe logo de seguida e combinamos uma reunião rápida e informal para terça-feira. Aproveitei então o dia, primeiro para procurar ácido fórmico (o qual não existia na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, nem no Instituto de Medicina Legal, nem no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, nem mesmo em nenhuma das muitas drogarias e farmácias onde procurei (listadas no “Ponto de Situação #1”). Desisti de procurar ácido fórmico, pelo menos por enquanto.
Fui com a minha irmã até Alfena, falar com o Sr. Arlindo Araújo. Embalsamador e Sócio-Gerente de “O Pantanal – Comércio de Animais de Estimação”. O encontro com ele no “Pantanal” foi previamente combinado por contacto telefónico. Cheguei à loja e tivemos uma difícil troca de palavras, muito contida, pois o Sr. Arlindo faz questão de manter em segredo os truques do negócio, o que compreendo perfeitamente. Após ter explicado o meu projecto e com mais um pouco de conversa, o Sr. Arlindo disponibilizou-se a mostrar-me o seu frigorífico. O conteúdo do pequeno congelador do combinado agradou-me bastante, não pela condição dos animais que lá se encontram (ou seja, mortos), mas sim pela importância do papel que eles poderiam desenrolar no meu projecto.
Ao olhar para aquele pequeno frigorífico a transbordar das mais variadas espécies de animais, com as mais variadas cores, comecei imediatamente a tentar criar uma imagem mental de uma espécie híbrida, completamente diferente daquela que imaginei inicialmente para o projecto.
O combinado de rato, pardal, esquilo e morcego que imaginei inicialmente perdia aqui o sentido para um combinado de animais tão exóticos e extravagantes como uma iguana, cobras, doninhas, pássaros exóticos incrivelmente coloridos. O meu projecto pede nesta altura uma reformulação no que respeita à organização de ideias e criação de uma espécie diferente.
Infelizmente não tive possibilidade de filmar ou captar qualquer tipo de imagens do local, pessoas e acontecimentos, por se tratar de um primeiro contacto com uma pessoa estranha e uma empresa que até então desconhecia. Quando lá voltar para recolher alguns dos animais contidos naquele frigorífico, talvez surja a oportunidade de filmar.
Logo após visitar “O Pantanal”, fui directo a Vila do Conde, para aproveitar a maré de sorte pela qual estava a passar. Sem pré-aviso fui tentar contactar pessoalmente o Sr. Duarte Botelho, taxidermista da empresa “Terra Selvagem – Atelier de Taxidermia”.
Bastante mais acessível e muito simpático, o Duarte mostrou-me, quase sob a forma de visita guiada, tudo o que se passa num Atelier de Taxidermia de grande dimensão. Neste caso, ele deixou-me à vontade para filmar o local e a nossa conversa. Mas mesmo assim não quis insistir em filmar tudo para não haver qualquer tipo de desconforto. Curiosamente, o primeiro livro deste taxidermista foi aquele que uso de momento, como Bíblia da Taxidermia, o “Taxidermia – embalsamamento de aves e mamíferos” do dinamarquês Harry Hjortaa.

foto: Henrique Serro

Um livro com mais de 20 anos. Devo o meu muito obrigado ao Duarte pelo apoio, conselhos dados e pela disponibilidade que mostrou para me ajudar no projecto.
Outra curiosidade relativa a este local é que estava repleta de ácido fórmico, aquilo que me fartei de procurar e não encontrei. Pedi-lhe um pouco e ele respondeu que me dava de bom grado, mas não me aconselhou a usar. Em vez disso deu-me 500gr de Alúmen (comummente usado em purificação de água, curtimento de couro, têxteis à prova de fogo, e produção de pão) e uma nova fórmula. Fico-lhe desde já muito agradecido.

Terça-feira, 25 de Março de 2008

Neste dia, fui então até ao Zoo da Maia, como combinado. Correu muito bem. Falei com o Veterinário Dr. Nuno Alvura e ele mostrou-se bastante empenhado em ajudar. Mais uma vez o meu Obrigado. Com um pouco de sorte (dependendo do resultado das burocracias necessárias), consigo arranjar através deste contacto, o morcego que tanto queria ver incluído no meu projecto.

Quarta-feira, 26 de Março de 2008

Para finalizar este meu ponto de situação, deixo aqui o registo escrito da minha visita ao Museu de História Natural da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Neste local, indicado pela minha irmã, vi centenas de espécies embalsamadas, das mais variadas proveniências a nível nacional e mundial. Foi uma visita essencial para perceber o tipo de desgaste que os animais podem sofrer com o passar do tempo, reparar quais as zonas do corpo dos diferentes animais que são mais frágeis. Funcionou quase como um centro de análise ostensiva a animais embalsamados. Era do meu agrado ter entrado em contacto com o responsável pelo museu, mas ele não se encontrava presente.
Nesta fase do projecto deveria já ter começado com a experiência de embalsamamento animal, no entanto não o fiz pois concentrei mais o meu tempo na procura de contactos de profissionais que me possam ajudar a realizar o projecto. Com o contacto do Sr. Duarte e a disponibilidade que demonstrou para ajudar, creio que não terei grandes dificuldades em questões técnicas que possam surgir.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Ponto de Situação #1 - Materiais e Contactos

Irei escrever nesta mensagem o ponto de situação do projecto (#1) no que toca à recolha de materiais e contactos.
Até à data foi feita quase toda a recolha de materiais necessários para a prática da taxidermia e de tudo aquilo que ela envolve. Recolhi inúmeros contactos e localizações de drogarias, lojas, faculdades, instituições e empresas que me pudessem ajudar a concretizar o meu projecto. Seja na recolha de materiais, na descoberta de animais mortos, ou nos ensinamentos de diferentes técnicas de embalsamar.
Alguns contactos e localizações levantados foram:

. O Pantanal - Comércio de animais de estimação – empresa de importação e exportação de animais situada em Alfena;
. Terra Selvagem - Atelier de Taxidermia – empresa dedicada à preparação de Troféus de Caça e objectos de decoração de interiores;
. Drogarias Moura, Louzada, Torrinha e Marília;
. Farmácias Vitália, Lemos, Sá da Bandeira, São Lázaro;
. Zoo da Maia;
. Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto;
. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar;
. Instituto de Medicina Legal;
. Museu de História Natural da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto;
. Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade;
. Parque Natural Serras Aire e Candeeiros;
. Parque Biológico de Gaia.

Até ao momento apenas foram contactadas a empresa Terra Selvagem e as Drogarias e Farmácias, algumas por telefone e outras pessoalmente. As farmácias foram contactadas unicamente para procurar Ácido Fórmico (um dos “ingredientes” na fórmula do líquido de preparação da pele animal). Já as Drogarias foram contactadas pela mesma razão e para tentar encontrar materiais.
O deambular pela cidade é muito importante para a descoberta de materiais pois apercebi-me da existência de locais onde não há contacto disponível por nenhum meio de divulgação que conheço.
O mais importante contacto até agora foi feito pessoalmente na loja da Terra Selvagem em Matosinhos. Primeiro contactei a loja por telefone, expliquei a situação em que me encontro, dirigi-me à loja e falei com a gerente, Daniela Borges. Extremamente simpática, a Daniela indicou-me o contacto de Duarte Botelho (taxidermista da empresa) e apontou-me ainda algumas dicas relativamente à forma como deveria encaminhar o meu projecto, tendo em conta a escassez de tempo, recursos, conhecimento e experiência no ramo. Desde já o meu Obrigado!

terça-feira, 11 de março de 2008

O que é o "B-Rh+"?

Abstract/Sinopse

“B-Rh+” é uma crítica à vida, ao comportamento social do Homem face à morte. A proposta que coloco é “dar vida após a morte”, atribuir utilidade ao corpo inanimado de se revelar como matéria social e crítica, como um elemento integrante dela, materializando o corpo em diferentes significados e interpretações. Com esta proposta pretendo levar a palavra criação ao expoente máximo do seu significado.


Descrição do projecto

Este projecto intermedia consistirá no processo de criação de uma espécie, diferente de todas as outras antes vistas e simultaneamente semelhante a todas elas. Proponho-me documentar a concepção de um animal desenhado por mim e pela natureza, um ser híbrido. Pretendo recolher a pele de diferentes animais mortos, de proporções semelhantes, e uni-las numa só criatura (recorrendo à taxidermia ou embalsamamento) assinando-a no final com a tinta encarnada que suporta a minha existência. O meu sangue. O B-Rh+.
A minha criação será sangue do meu sangue, percurso e extensão da minha própria existência, serei eu sob a forma daquilo o que pretendo que seja, que exista. A fronteira que antes separou as nossas divergentes existências, será agora intimamente profunda. O objectivo é, como referi na sinopse, dar vida após a morte, mas para além disso pretendo questionar a capacidade e o poder da criação/criatividade humana, no que toca a questões de concepção não natural ou não uterina. Será que ao pegar em diferentes animais mortos, uni-los, e dar-lhes uma forma estou a inventar, a criar? Posso considerar a criação artística como minha ou estou apenas a juntar peças que a natureza me forneceu? Estas são questões que pretendo documentar e esclarecer no meu percurso de trabalho.
Em suma e muito sucintamente, derrubar fronteiras, criar elos de íntima relação entre criador, criação e matéria, num novo corpo, num novo ser. É este o meu propósito.